"Corrigir uma página é fácil. Mas escrevê-la - ah, amigo! - isso é difícil."

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quer mesmo saber?



Quem me vê sorrindo, não conhece os meus dramas; quem me vê sonhando, não discerne as minhas limitações; quem me vê chorando, não entende os meus motivos; quem me vê sofrendo, não compreende as minhas razões.

Hoje estou me sentindo como Sansão, vencido pelos dilemas, soterrado por contradições. Estou girando em torno da roda de moinho da existência. Já dei várias voltas ao redor do mundo sem sequer sair do lugar. Sim, eu sei que há dias nublados, cinzentos, há dias de dor e solidão, “tempo de chorar e tempo de sorrir”...

Descobri, já faz algum tempo, que eu sou de osso, não de aço. Não faço parte desta geração que não sente dor, que não sente medo, que não fica doente, que não peca, que não se contradiz. Fui formado em uma “forma” diferente, sou o mais comum dos comuns, ainda permaneço como substância informe, meu interior é coberto de sombras e silêncios, sou ser por fazer-se, incompleto, inconstante, imperfeito.

Estou com fome de vida, preciso de um gole de esperança. Sinto dores por fora, calafrios por dentro. Talvez você não entenda o que é isso, pois provavelmente você foi feito numa outra “linha de produção”. Você é mais maduro, mais moderno. Eu não. Eu sou ser da terra, feito do barro, criado do pó. O Espírito Eterno soprou em minhas narinas e eu ganhei um pequeno fôlego de vida, coisa passageira, tênue. Logo, logo, eu sei, ele se extinguirá.

Já andei pelos lugares altos, e sei também o que é se arrastar com a cara no chão. Aprendi a viver mais com o não do que com o sim. De tanto apanhar da vida, acabei aprendendo a dar significados as minhas derrotas. Eu vivo de restos; aquilo que outros desprezam eu colho como frutos de misericórdia. Tenho semeado com lágrimas, por isso ainda espero um dia colher algo com um pouco de alegria... 

Há momentos em que eu me sinto como alguém que caminha pelo deserto, um beduíno, um andarilho sem destino. Eu não sei qual foi a porta que eu abri mas, quando dei por mim, já estava aqui. Curioso, também, é que eu não sei como sair; as portas daqui só possuem maçanetas pelo lado de fora! Aqui é todo canto e lugar nenhum...

Deus é a minha esperança, e isso é tudo o que a minha alma sabe. Enquanto o pó da existência se acumula nos meus pés cansados de tanto caminho, lembro-me das palavras do “pequeno príncipe” – não o de Exupery – e faço a minha prece: “prepares para mim uma mesa na presença dos meus adversários, uma mesa no deserto, e então derrame óleo sobre a minha cabeça para que o meu cálice transborde”.

Ensina-me, eu te peço, a viver com retidão, a não desprezar a correção, a meditar em tua palavra e a guardar puro o meu coração. Eu sei que se isso eu fizer, certamente “bondade e misericórdia me acompanharão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre”.  

Quem puder entender, então que entenda... Quem não puder, apenas leia... Quem não ler, talvez melhor fará...
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Evangelho - Grupo Logos



"Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser ...


Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!


Refrão
O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.


O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só ...
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.


Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu


É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará" 

(O Evangelho; Grupo Logos)
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Eu lhe garanto...


O ladrão vê paredes sujas e um chão encardido. A luz do sol racionada se comprimindo por rachaduras. A cela na prisão é escura. Os dias dele, mais ainda. Ratos se escondem apressadamente em buracos nos cantos das paredes. Se pudesse, ele faria o mesmo. 

O ladrão ouve pés de soldados se arrastando. A porta da prisão se abrindo com um estrondo. E um guarda com a compaixão de uma viúva negra. 

--- Levante-se! Sua hora chegou! 

O ladrão encontra rostos desafiadores, lado a lado, ao longo de um caminho de pedras. Homens cuspindo, revoltados, mulheres virando a cara. 

Enquanto o ladrão sobe ao cimo da montanha, certo de que não voltará a descer, nunca mais. Um soldado o puxa para baixo, outro pressiona seu antebraço contra uma tora de madeira e o segura com o joelho. Ele percebe o soldado pegar a marreta e um prego grande. Medo. 

O ladrão escuta batidas. Batidas do martelo que ressoam em sua cabeça, confundindo-se com as batidas aceleradas de seu coração. Soldados romanos bufam enquanto levantam a cruz. A base faz um estampido ao ser encaixada no buraco ao solo. 

O ladrão sente dor. Dor de tirar o fôlego, de parar o coração, de enrijecer todos os seus músculos. Suas fibras pegam fogo. 

O ladrão emite grunhidos. Gemidos assustadores que pré anunciam a chegada da morte. Nada mais que a morte dele mesmo. 

O lugar? Gólgota ---- que quer dizer lugar da Caveira. Nome apropriado para sua iminente situação. 

Mas naquele monte, um rei também está sendo crucificado. A morte parece tocar nesse lugar um acorde desesperador. Nada de canções de esperanças. Nada de sonetos de vida. Apenas os acordes dissonantes da morte. 

É aqui que um outro som começar a ser emitido como uma flauta doce soando alegremente no meio de um campo de batalha. Uma nuvem de chuva encobre o sol do deserto. Uma rosa desabrocha no monte da morte. 

Jesus ora em uma cruz romana: 

---- Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo. (Lucas 23:34). 

Eis como o ladrão reage. Zombaria. “Igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele.” (Mateus 27:44). 

Ele se une aos zombadores que dizem: --- Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo! E é o rei de Israel! Desça agora da cruz, e creremos nele. Ele confiou em Deus. Que Deus o salve agora, se dele tem compaixão, pois disse: “Sou o Filho de Deus.” (Mateus 27:42 e 43). 

Tendo sido ferido o ladrão fere, tendo sido machucado o ladrão machuca. Mas Jesus se recusa a retaliar. O ladrão, pela primeira vez naquele dia, (pela primeira vez em tantos dias), vê bondade. Não olhares arremetedores nem palavras amaldiçoadoras, mas paciência. 

O ladrão se comove. Ele para de zombar do Cristo e tenta fazer os outros pararem também: 

--- Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos atos merecem. --- Ele confessa ao criminoso na outra cruz. --- Mas este homem não cometeu nenhum mal. (Lucas 23:41). 

O ladrão sente que está ao lado de Alguém revestido de certa autoridade régia sobre a morte e faz um pedido: 

--- Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino. ( Lucas 23:42). 

E Jesus, cujo o trabalho envolve aceitar imigrantes ilegais, autenticando passaportes, justificando condenados com um visto do Céu, responde: 

--- Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso. (Lucas 23:43). 

E o mal dia do ladrão encontra a dádiva graciosa de um Deus misericordioso. 

O que o ladrão vê agora? 

Ele vê um filho confiar sua mãe aos cuidados de um amigo e honrar seu amigo com os cuidados de sua mãe. (João 19:26 e 27). 

Ele vê o Deus que escreveu um livro sobre Graça. 

Ele vê o outro ladrão não vendo nada. 

O que ele ouve? 

Ele ouve o que Moisés ouviu quando era um fugitivo no deserto do Sinai; 

O que Elias ouviu quando estava deprimido no penhasco; 

O que Davi ouviu depois de seu adultério com Bate-Seba; 

Ele ouve o que um Pedro inconstante ouviu após o galo cantar; 

Os discípulos atirados pela tempestade ouviram após o vento parar; 

A mulher que traía o marido ouviu depois que os homens foram embora; 

A samaritana que se casou várias vezes ouviu antes de os discípulos chegarem; 

O paraplégico ouviu quando seus amigos o passaram pela abertura no telhado; 

O cego ouviu quando Jesus o encontrou na rua. 

Ele ouve a língua oficial de Cristo: GRAÇA IMERECIDA, INESPERADA GRAÇA. 

Jesus lhe respondeu: Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso. (Lucas 23:43). 

Paraíso --- O céu intermediário --- a casa dos justos até o retorno de Cristo. A árvore da vida está lá. Os santos estão lá. Deus está lá. E agora o ladrão que começou o seu dia em uma prisão romana fétida, fria e escura, estará lá. 

Com Jesus não há entrada pelos fundos, não há chegada clandestina. O ladrão passa pelos portões pisando o tapete vermelho de Jesus. Hoje, imediatamente. Sem se purificar no purgatório. Sem reabilitações em clinicas espirituais de outro plano. Nosso Lar ou coisas do tipo. 

A graça vem como a luz do sol e ilumina a alma sombria do ladrão. O monte da execução se transforma no monte da transfiguração para ele e talvez você precise do mesmo. 

Os erros de ontem fazem o papel do esquadrão romano da morte. Eles o acompanham ao calvário da vergonha. Os rostos do passado estão pelo caminho. Vozes berram seus crimes enquanto você passa. Logo você é crucificado na cruz de seus erros. Erros idiotas! 

O que você vê? Morte. 

O que você sente? Vergonha. 

O que você ouve? 

Ah, essa é a pergunta. O que você ouve, amigo? 

Conseguiria ouvir a voz libertadora de Jesus em meio aos seus acusadores? Você seria capaz de escutar a melodia da Graça tocando em nossos des-graçados ouvidos (almas). 

“Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!” 

Ele garante: Hoje estarás comigo no paraíso. 

Hoje, este é o dia. No meio desse dia angustiante, Jesus realiza um milagre: Enquanto crucificam o seu passado, Ele te liberta para um futuro de vida, cobrindo com misericórdia seus dias de vergonha. Paraíso prometido, hoje, para mim e para você. 

Tudo que Ele espera é que eu e você reconheçamos esse som. O som da Graça. 

As palavras do ladrão bastam para sua oração inicial: Nós estamos sendo punidos com justiça porque estamos recebendo o que os nossos atos merecem. Mas este Homem, não cometeu nenhum mal... 

Nós estamos errados. Ele está certo. 

Nós mentimos. Ele é a verdade. 

Nós pecamos. Ele é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. 

Nós precisamos de Graça. Somente Ele pode nos dar. 

Então peça ao Senhor: “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino.” 

Ele não tardará em lhe responder: 

“Hoje você estará comigo no paraíso.” 

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Morte do Púlpito.

A igreja evangélica brasileira vive uma tragédia: a morte do púlpito. Usando o jargão do nosso ex-presidente: "Nunca na história desse país", ou melhor do protestantismo, houve tanto desprezo pela pregação cristocêntrica, preparada com esmero e preocupada com a correta interpretação das Escrituras. O púlpito tem sido substituído pelo altar dos “levitas” ou para os ”sacrifícios” em dinheiro dos mercenários mercantilistas. A “pregação” da Palavra é, hoje, conceituada como qualquer um que sobe na plataforma e começa a falar ou gritar.

Talvez você, lendo esse texto, pense: - “Na minha igreja a pregação é sempre um espaço grande e recebemos visitas de diversos pregadores”. Esse artigo quer alertar que não basta um tempo grande para a pregação e nem que a plataforma esteja cheia de homens engravatados; antes é necessária a avaliação da qualidade dessa pregação. A pregação precisa ser avaliada, assim como fazia os cristãos bereanos, que por sua nobreza, comparam as homilias de Paulo com as Sagradas Escrituras.

Quais são as causas da “morte do púlpito” no evangelicalismo moderno?

A) Espiritualidade em baixa é igual à pregação sem qualidade.

A pobreza das pregações é evidente nesses últimos dias, pois isso é conseqüência direta da pobreza na vida cristã, pois como dizia Arthur Skevington Wood: “Leva-se uma vida inteira para preparar um sermão, porque é necessária uma vida inteira para preparar um homem de Deus”. Enquanto a espiritualidade da Igreja estiver em baixa, a pregação, por mais espiritual que ela pareça ser, não passará de palavras jogada ao vento. Não basta uma pregação erudita, mas a erudição deve ser acompanhada de contrição, humildade e oração, pois bem escreveu E. M. Bounds: “Dedique-se ao estudo da santidade de vida universal. Sua utilidade depende disso. Seus sermões duram não mais do que uma ou duas horas; sua vida prega a semana inteira.”
Hoje existem muitas igrejas que oram “bastante”, são campanhas atrás de campanhas, mas essas orações não passam de busca “dos próprios deleites” ou de “determinações” de bênçãos. Ora, a oração sem a busca da face de Deus é uma característica do evangelicalismo contemporâneo. Uma igreja que ora errado, logo terá pregadores pobres.

B) A falta de preparo para pregar.

Erudição, esmero e homilética não são inimigos da espiritualidade. Um mito vigente na igreja brasileira é que quem se prepara muito para pregar, terá uma pregação “não ungida”. Isso é mera desculpa de pregador preguiçoso. Você, leitor, já deve ter visto alguém dizer: - “Quando cheguei aqui não sabia o que ia pregar, mas assim que subi nesse altar o Espírito Santo me revelou outra Palavra” ou “Eu não preparo pregação, o Espírito de Deus me revela”... São frases irresponsáveis e brincam com o Espírito Santo, atribuindo a Ele sua preguiça de passar várias horas em estudo e oração para pregar a Palavra.
Hoje, pregar com esboço em papel é quase um pecado em muitas igrejas; alguns olham com “cara feia” para os que levam algo escrito em sua homilia. Será que não sabem que um dos sermões mais impactantes da história, foi literalmente lido pelo pregador. Esse sermão era “Pecadores na mão de um Deus irado”, que Jonathan Edwards pregou em 08 de Julho de 1741 na capela de Enfield. O biógrafo de Edwards, J. Wilbur Chapman , relatou:

Edwards segurava o manuscrito tão perto dos olhos, que os ouvintes não podiam ver-lhe o rosto. Porém, com a continuação da leitura, o grande audi­tório ficou abalado. Um homem correu para a frente, cla­mando: Sr. Edwards, tenha compaixão! Outros se agarra­ram aos bancos, pensando que iam cair no Inferno. Vi as colunas que eles abraçaram para se firmarem, pensando que o Juízo Final havia chegado.[1]

C) Ter uma visão pragmática sobre a pregação.

Para muitos, uma pregação só é válida se houver resultados. As pessoas não querem saber se o conteúdo da pregação é biblico ou herético, mas preferem esperar pelos resultados propagados pelo pregador. A primeira motivação dos pragmáticos é buscar a praticidade, portanto o pragmatismo é casado com o imediatismo, onde tudo tem quer ser aqui e agora.
O conceito de pregação “ungida” é bem pragmática, pois para boa parte da comunidade evangélica, a boa pregação tem que envolver o emocional, nesse contexto nasce frases do tipo “crente que não faz barulho está com defeito de fabricação”. Se não houver choro, gritos, pulos ou outras manifestações “espirituais”, a pregação perde o seu valor para aos cristãos atuais.
Pregadores pragmáticos gostam de ver seus ouvintes interagindo exageradamente no culto. É constante dos pregadores mandarem as pessoas glorificarem e até falar em línguas. Nesses cultos a justificativa para essas ordens é que “quando a glória da Igreja sobe, a glória do céu desce”. Não há respaldo bíblico para esse tipo de pensamento que é passado como algo bíblico. A emoção e as experiências fazem parte da vida cristã, mas não devem normatizar a liturgia ou direcionar os crentes, pois os verdadeiros cristãos tem a Palavra de Deus, e somente Ela, como regra de fé e prática.

D) Pastor-professor X pregador-ator

Eis o dilema existente no evangelicalismo moderno. O pastor-mestre foi substituído pelo pregador-carismático-ator. O mestre que orientava a sua congregação nas Sagradas Letras, sendo um homem de estudos e contemplativo, era característico de piedosos servos de Deus, como Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, D. L. Moody etc.
O púlpito tem sido morto pelo estrelismo de pastores-atores, que confundem a plataforma da igreja com um palco para entretenimento, são pessoas que pregam o que a congregação quer ouvir e fazem de seus carismas uma imposição de sua pessoa. Quem estuda a história da igreja, verá que os piedosos servos de Deus, da Reforma ao Grande Despertamento do século 18, eram homens de grande interesse pela pregação expositiva, onde o texto fala por si só. A partir do século 19, os sermões são cada vez mais temáticos e os pregadores mais articulados no estrelismo.
O Movimento Pentecostal peca, e gravemente, em não valorizar os sermões bem preparados e articulados, ungidos pelo Espírito Santo, para edificação da congregação. Em uma piedade aparente, muito exaltam a ignorância como virtude, justificando os sermões artificiais, sem profundidade e recheados de chicles, modismos e até heresias.

Referência Bibliográfica:

1. BOYER, Orlando. Heróis da Fé. 15 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 03.

Fonte: Via blog A serviço do Rei.
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