Eu lhe garanto...
O ladrão vê paredes sujas e um chão encardido. A luz do sol racionada se comprimindo por rachaduras. A cela na prisão é escura. Os dias dele, mais ainda. Ratos se escondem apressadamente em buracos nos cantos das paredes. Se pudesse, ele faria o mesmo.
O ladrão ouve pés de soldados se arrastando. A porta da prisão se abrindo com um estrondo. E um guarda com a compaixão de uma viúva negra.
--- Levante-se! Sua hora chegou!
O ladrão encontra rostos desafiadores, lado a lado, ao longo de um caminho de pedras. Homens cuspindo, revoltados, mulheres virando a cara.
Enquanto o ladrão sobe ao cimo da montanha, certo de que não voltará a descer, nunca mais. Um soldado o puxa para baixo, outro pressiona seu antebraço contra uma tora de madeira e o segura com o joelho. Ele percebe o soldado pegar a marreta e um prego grande. Medo.
O ladrão escuta batidas. Batidas do martelo que ressoam em sua cabeça, confundindo-se com as batidas aceleradas de seu coração. Soldados romanos bufam enquanto levantam a cruz. A base faz um estampido ao ser encaixada no buraco ao solo.
O ladrão sente dor. Dor de tirar o fôlego, de parar o coração, de enrijecer todos os seus músculos. Suas fibras pegam fogo.
O ladrão emite grunhidos. Gemidos assustadores que pré anunciam a chegada da morte. Nada mais que a morte dele mesmo.
O lugar? Gólgota ---- que quer dizer lugar da Caveira. Nome apropriado para sua iminente situação.
Mas naquele monte, um rei também está sendo crucificado. A morte parece tocar nesse lugar um acorde desesperador. Nada de canções de esperanças. Nada de sonetos de vida. Apenas os acordes dissonantes da morte.
É aqui que um outro som começar a ser emitido como uma flauta doce soando alegremente no meio de um campo de batalha. Uma nuvem de chuva encobre o sol do deserto. Uma rosa desabrocha no monte da morte.
Jesus ora em uma cruz romana:
---- Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo. (Lucas 23:34).
Eis como o ladrão reage. Zombaria. “Igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele.” (Mateus 27:44).
Ele se une aos zombadores que dizem: --- Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo! E é o rei de Israel! Desça agora da cruz, e creremos nele. Ele confiou em Deus. Que Deus o salve agora, se dele tem compaixão, pois disse: “Sou o Filho de Deus.” (Mateus 27:42 e 43).
Tendo sido ferido o ladrão fere, tendo sido machucado o ladrão machuca. Mas Jesus se recusa a retaliar. O ladrão, pela primeira vez naquele dia, (pela primeira vez em tantos dias), vê bondade. Não olhares arremetedores nem palavras amaldiçoadoras, mas paciência.
O ladrão se comove. Ele para de zombar do Cristo e tenta fazer os outros pararem também:
--- Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos atos merecem. --- Ele confessa ao criminoso na outra cruz. --- Mas este homem não cometeu nenhum mal. (Lucas 23:41).
O ladrão sente que está ao lado de Alguém revestido de certa autoridade régia sobre a morte e faz um pedido:
--- Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino. ( Lucas 23:42).
E Jesus, cujo o trabalho envolve aceitar imigrantes ilegais, autenticando passaportes, justificando condenados com um visto do Céu, responde:
--- Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso. (Lucas 23:43).
E o mal dia do ladrão encontra a dádiva graciosa de um Deus misericordioso.
O que o ladrão vê agora?
Ele vê um filho confiar sua mãe aos cuidados de um amigo e honrar seu amigo com os cuidados de sua mãe. (João 19:26 e 27).
Ele vê o Deus que escreveu um livro sobre Graça.
Ele vê o outro ladrão não vendo nada.
O que ele ouve?
Ele ouve o que Moisés ouviu quando era um fugitivo no deserto do Sinai;
O que Elias ouviu quando estava deprimido no penhasco;
O que Davi ouviu depois de seu adultério com Bate-Seba;
Ele ouve o que um Pedro inconstante ouviu após o galo cantar;
Os discípulos atirados pela tempestade ouviram após o vento parar;
A mulher que traía o marido ouviu depois que os homens foram embora;
A samaritana que se casou várias vezes ouviu antes de os discípulos chegarem;
O paraplégico ouviu quando seus amigos o passaram pela abertura no telhado;
O cego ouviu quando Jesus o encontrou na rua.
Ele ouve a língua oficial de Cristo: GRAÇA IMERECIDA, INESPERADA GRAÇA.
Jesus lhe respondeu: Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso. (Lucas 23:43).
Paraíso --- O céu intermediário --- a casa dos justos até o retorno de Cristo. A árvore da vida está lá. Os santos estão lá. Deus está lá. E agora o ladrão que começou o seu dia em uma prisão romana fétida, fria e escura, estará lá.
Com Jesus não há entrada pelos fundos, não há chegada clandestina. O ladrão passa pelos portões pisando o tapete vermelho de Jesus. Hoje, imediatamente. Sem se purificar no purgatório. Sem reabilitações em clinicas espirituais de outro plano. Nosso Lar ou coisas do tipo.
A graça vem como a luz do sol e ilumina a alma sombria do ladrão. O monte da execução se transforma no monte da transfiguração para ele e talvez você precise do mesmo.
Os erros de ontem fazem o papel do esquadrão romano da morte. Eles o acompanham ao calvário da vergonha. Os rostos do passado estão pelo caminho. Vozes berram seus crimes enquanto você passa. Logo você é crucificado na cruz de seus erros. Erros idiotas!
O que você vê? Morte.
O que você sente? Vergonha.
O que você ouve?
Ah, essa é a pergunta. O que você ouve, amigo?
Conseguiria ouvir a voz libertadora de Jesus em meio aos seus acusadores? Você seria capaz de escutar a melodia da Graça tocando em nossos des-graçados ouvidos (almas).
“Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!”
Ele garante: Hoje estarás comigo no paraíso.
Hoje, este é o dia. No meio desse dia angustiante, Jesus realiza um milagre: Enquanto crucificam o seu passado, Ele te liberta para um futuro de vida, cobrindo com misericórdia seus dias de vergonha. Paraíso prometido, hoje, para mim e para você.
Tudo que Ele espera é que eu e você reconheçamos esse som. O som da Graça.
As palavras do ladrão bastam para sua oração inicial: Nós estamos sendo punidos com justiça porque estamos recebendo o que os nossos atos merecem. Mas este Homem, não cometeu nenhum mal...
Nós estamos errados. Ele está certo.
Nós mentimos. Ele é a verdade.
Nós pecamos. Ele é o Cordeiro que tira o pecado do mundo.
Nós precisamos de Graça. Somente Ele pode nos dar.
Então peça ao Senhor: “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino.”
Ele não tardará em lhe responder:
“Hoje você estará comigo no paraíso.”
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