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sábado, 12 de março de 2011

Porque os desertos são necessários?

Ultimamente, vejo com bons olhos quando cristãos estão em “desertos”. Talvez seja mais uma razão para que me julguem confuso, ainda mais quando vivemos tempos onde a vitória sem luta é tão valorizada.

Gente começando a frequentar uma igreja – por exemplo - e tendo aquele encontro legítimo com o Mestre não faz a menor ideia de quanto sua vida poderá mudar (e quando digo “poderá” é por existir a liberdade deste em escolher até onde o refino de sua alma vai, e assim, definir bem onde essa "engrenagem" pode ser usada). Triste é que em muitas “comunidades” ditas cristãs esse caminho – que é o Caminho – não será trilhado.

Não foi com pouca tristeza que vi o Espírito tentar conduzir candidatos a discípulos, e receber uma instrução farisaica que aquilo era obra do diabo, assim como não foi incomum ouvir o famigerado “tamarrado”, o que, para mim, beira à maior e mais imbecil das loucuras: Se há um pecado sem perdão nesse ou no mundo vindouro, é atribuir obras do Espírito Santo a qualquer espírito imundo. Fariseus fizeram isso, dizendo que o Espírito que atuava em Cristo era por força de Belzebú (que é o príncipe infernal que comanda as moscas das fezes).

Quem levou Jesus para o deserto – para ser tentando pelo diabo – foi o Espírito. Se um discípulo quer ser chamado “cristão”, terá que provar destes dias tão tenebrosos.

Coisa mais sem graça é crente sem marcas de batalha: se torna arrogante, suas histórias de batalhas não possuem quedas e são insossas: só triunfos e mais triunfos. Para um novo convertido, é a glória: a chance da perfeição, daquela prometida pela serpente a Eva. Muitos, ao conviverem com esses perfeitos seres, descobrem a imensa incompatibilidade em sua oratória e seu cotidiano, e deduzem que caíram em mais um conto mentiroso. Começam a descrer naquele milagre íntimo capaz de converter almas empedradas.

Jesus se submete a vontade do Pai, e esta consiste em enfrentar satanás e a sutileza do que vai em suas três ofertas: o pão, a auto-estima e o poder que as riquezas dão: todo homem, sem exceção, cai nessas tentações e entrega aí sua liberdade. Só Jesus não caiu, embora confesse ter se sentido tentado. “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Curioso é que muitos irmãos ditos consagrados garantem não passar por isso. Vivem vendendo essa imagem nos púlpitos, no que outros homens, que dizem ter abandonado essa prática pelo protestantismo, fazem destes ídolos, símbolos a serem erigidos, protegidos a qualquer custo. Quando eles mostram-se homens como nós, a turba se forma, e atribuem a ela a palavra “queda” - a mesma palavra atribuída ao evento com Lúcifer. Uns o protegerão como ídolos a serem preservados, símbolo de um estilo, de uma organização. Outros organizarão linchamentos. O mandamento ordena que eu o ame como a mim mesmo, ou seja: lidar com seu pecado como lido com o meu ( independente se ele mentiu em suas garantias de inefabilidade).

Que venham os desertos, os cabelos desgrenhados e o olhar perdido e desolado pelas batalhas duríssimas. Que venha o diabo, segundo a vontade do Espírito, trazer à tona nossas fraquezas e nos fazer tropeçar em nossas próprias imbecilidades, nos mantendo longe da soberba, e mantendo nossos olhares sempre na horizontal em relação a nossos irmãos. Falo isso com temor, pois não aprecio desertos, mas só digo isso por já conhecer alguns e saber dos benefícios de se aprender a caminhar neles. Em certas situações tive algumas quedas, noutras, muitas mais. E foi caindo que aprendi a me levantar.

São nos desertos que aprendemos a valorizar a Água que Cristo dá. Aquele que tem sede busca...
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