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segunda-feira, 28 de março de 2011

Qual é a vontade de Deus para minha vida?

Um dos temas com os quais os pastores mais se deparam em momentos de aconselhamento é sobre a vontade de Deus. Em tais situações, é muito comum ouvirmos expressões do tipo: “pastor, qual é então a vontade de Deus para a minha vida?”.

Independentemente do tema, a intrigante pergunta sempre surge para nos colocar em situação difícil. Nestas circunstâncias, sinto-me como se fosse um oráculo, um intermediário do sagrado, um profeta de ocasião, alguém que tem de dar uma resposta plausível, pois, do outro lado, há alguém angustiado e inquieto aguardando o meu “parecer”.

Sem querer teologizar muito, e botando logo os pingos nos “is”, a vontade de Deus é de Deus, não é nem minha, nem sua, nem de ninguém. Já li muita coisa a este respeito sem, contudo, jamais me sentir satisfeito. Filósofos e teólogos criam explicações mirabolantes e sistematizadas para tentar tratar de algo que, no meu entendimento, é “terreno de Deus”.

Os calvinistas vêem a vontade de Deus de uma forma, os arminianos de outra, os da teologia da prosperidade enxergam de um jeito, os da teologia relacional de outro. Há os que afirmam que Deus tem vontade descritiva – coisas pré-ordenadas, e vontade permissiva – coisas que ele tolera existir ou acontecer. Tem os que dizem que a vontade de Deus pode ser secreta ou revelada, dispositiva ou perceptiva, e por aí vai... É o homem tentando entrar nas profundezas do insondável.

Em seu livro “A Soberania de Deus”, Arthur Pink nos dá uma pista de como o tema é denso e, talvez até, incompreensível:  “A vontade de Deus é Seu eterno e imutável propósito concernente a todas as coisas que Ele fez, para produzir certos meios para seus fins apontados: disto Deus declara explicitamente: "Meu conselho subsistirá, e farei toda Minha vontade" Is. 46:10.

Mas, afinal de contas, “qual a vontade de Deus para minha vida?”, pois esta é a pergunta que não quer calar. E eu respondo: “sei lá!”. Atrevo-me apenas a exprimir o que diz Paulo aos Romanos, que ela é “boa, perfeita e agradável”. “Pastor, devo casar com fulano?”; “Pastor, devo fazer tal curso”; “Pastor, devo mudar de cidade?”; “Pastor, devo aceitar tal emprego?”; “Pastor...”. Meu amigo, minha amiga, eu, simplesmente, não sei!

O que certamente sei é que esta forma de viver a vida cristã não me parece muito adequada. Mas a verdade é que a grande maioria quer respostas exatas para tudo, acha que na Bíblia há direcionamento sobre todas as questões da existência, espera que seus líderes os aconselhem precisamente em todas as suas indecisões. Ora, isso simplesmente não existe! E é por isso que tanta gente quebra a cara por aí e depois fica culpando Deus, o Pastor, as Escrituras, a mulher, o marido, o amigo, e nunca a sua incapacidade de fazer escolhas próprias.

Para mim, a vontade de Deus está na próxima esquina. O que quero dizer com isto? Que o caminho com Deus se faz caminhando, e que uma coisa é saber sobre o Caminho e outra é caminhar por ele. Nós cristãos nos tornamos cada dia mais teóricos, mais retóricos, esquecemos que o convite de Jesus é para que andemos no “Caminho”, em verdade, pois, só assim, poderemos experimentar a verdadeira vida.

Quem caminha com Deus está construindo com ele uma história aqui na Terra. Enquanto estou, na estrada da existência, “seguindo” a Deus, no encalço de seus passos, estou na realidade permitindo que em mim vá sendo desenvolvida sua soberana vontade, e isto em cada acontecimento do cotidiano, em cada circunstância que vai se “desenhando” no meu caminhar.

Mas, de repente, Deus vira a esquina! Eu olho para frente e não o vejo mais. A “cena” na qual Deus está continua acontecendo na “rua” por onde ele está seguindo agora, mas eu não consigo discerni-la, percebê-la, compreendê-la, pois sou incapaz de enxergá-lo neste momento. O que faço então? Sento e fico adorando a Deus até que ele se revele novamente? Jejuo até que seu caminho se desnude para mim? Oro para que ele me fale o que devo fazer? Consulto um profeta para saber o direcionamento correto? Sinceramente, isto não lhe parece absurdo? Mas é desta forma que muitos estão vivendo.

Ora, de fato, a uma única coisa a se fazer é ir até a esquina e, avistando o “caminhar de Deus”, retomar novamente o seguir os seus passos, ou seja, inserir-me outra vez como parte da “cena” que continuou se desenrolando independentemente da minha presença. Preciso querer estar com Deus, e não apenas saber de Deus.

De uma coisa estou certo: “Aquele que faz sempre o que quer, raramente faz o que deve”. Pierre Beauchêne. Ora, se você quer fazer a sua vontade, porque pergunta para mim qual a vontade de Deus? E mais: se você quer fazer a vontade de Deus, porque pergunta para mim o que deve fazer?

Deus está caminhando – “se alguém quer vir após mim...” – siga-o! Se ele virar a esquina, vire também. Se for reto, vá com ele. Se for rápido, corra. Se diminuir a marcha, vá mais devagar. Lembre-se apenas de algo: tente nunca o perder de vista, pois isso seria uma grande tragédia em sua vida. Agora, se isto acontecer, ainda há algo a ser feito: Pare e chame por Ele, mas chame-O se estiver disposto a segui-Lo verdadeiramente.

 Ele, por certo encontrará você, onde você estiver.
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