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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Deixei de ser evangélico!

É(...) É isso mesmo o que você acabou de ler: Deixei de ser evangélico, não agüento mais, cheeegaaa...! Chega de tanta hipocrisia. E pode espalhar a notícia! Tá autorizado(a).

Se ser evangélico hoje, for viver essa ‘babaquice gospel” que estamos vendo por ai. Tô fora!

Atualmente, ser evangélico pode significar qualquer coisa, o que nos leva a significado nenhum. Eis o grande mal dos evangélicos de nosso tempo: crise de identidade. A única coisa que o evangélico mediano parece saber sobre si mesmo, via de regra, inclui: que sua denominação é, em algum sentido, melhor do que a do outro; que ele é filho da promessa; que ele tem o selo da promessa e que portanto não vai morrer enquanto não se cumprir, que sua vitória tem sabor de mel e que apesar de não ser dono do mundo, é filho do Dono! Não é "liiiiindo, minha gente"?

Assim, minha primeira razão para deixar de ser evangélico está no fato de que essa gente, os evangélicos, não sabem o que ser evangélico significa. Pergunte a maioria de seus amigos evangélicos: o que é o evangelicalismo? Qual sua origem? Quais seus postulados? Faça um teste, e comprove: quase absoluta ignorância. Somos uma geração que nada sabe sobre os Grandes Despertamentos da fé, ou sobre nomes consagrados de nossa tradição evangélica, como Jonathan Edwards, John Wesley, Charles Finney, Dwigth L. Moody, etc. Nem mesmo o contemporâneo Billy Granham escapa imune a nossa ignorância crônica. Aliás, o Billy só volta ao imaginário dos "gospi" quando algum aloprado escatólogico faz malabarismo para associá-lo a sociedades secretas, e a complôs promotores do Anticristo... Em contrapartida, sabemos tudo sobre espiritos territóriais, ex-satanistas, ex-noivas-do-Capeta, campanhas de prosperidades, cura de caroços, símbolos ocultos, copo de água ungido, pregadores do ré-té-té, maldições hereditárias, e, claro, campanhas de Sementes, com Bíblias superfaturadas.

Por falar em Bíblia, eis minha segunda razão para deixar de ser evangélico: somos um povo ignorante das Escrituras, e da Teologia! Não só isso, além de ignorantes, temos orgulho do fato!

 Dia após dia, cresce a idéia de que um cristianismo realmente bíblico, que segue o modelo da Igreja Primitiva, é um cristianismo não-mais-necessário. Somos um povo com preguiça de pensar, temos sérias dificuldades para meditar nas Escrituras, não a lemos mais. Canonizamos a ignorância. Tal blasfêmia sempre esteve presente, com honrosas excessões, na religiosidade pentecostal (de onde eu venho), mas não é privilêgio apenas daquele grupo, infelizmente. Mas, como pentecostal que sou, vou me ater ao que diz respeito a minha experiência mais imediata.

 "Igreja do Senhor!" - esbraveja o falastrão: "eu tinha um sermão prontindo para vocês esta noite; porém, quando eu chegei neste lugar, o Espírito Santo mudou tudo – fez aquele rebuliço! Por isso, quero lhes dizer que tenho uma mensagem vinda diretamente do céu para vocês! Hoje, eu não quero nada com Teologia: Deus vai falar diretamente com você!”.

Só tem um nome para isso: psicologia barata. Atitude que não encontra nenhum paralelo no exemplo deixado por Jesus Cristo: "E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que deles se achava em todas as Escrituras” (Lucas 24.27).
Que ousadia têm esses pregadores e cristãos que desprezam o saber teológico, preferindo em seu lugar qualquer outra coisa, como experiencias e emoções! Eles se acham melhores que Cristo? Eles se consideram mais eficazes que o próprio Senhor, a quem dizem servir e amar? Do contrário, não é certo que deveriam seguir Seu exemplo? Como se atrevem a desprezar aquilo que Seu Deus valorizou? “O ser” em troca “do ter” e “do sentir”.

Intimamente relacionado ao que foi dito acima, identifico minha terceira razão para deixar de ser evangélico. Aqui, um boa dose de cautela, pois estarei pisando em terreno perigoso. Inicio meu argumento com uma exemplificação: que dirá um cristão evangélico contra um cristão católico que, por exemplo, acredita em Purgatório? Resposa bem fácil: "A Bíblia não fala nada sobre um Purgatório, meu filho, acorda!". De fato, e não falando, os evangélicos se recusavam a se submterem a um dogma extra-bíblico. Sabem o motivo? É que um dos pilares do Evangelicalismo vem direto da Reforma Protestante: o sola scriptura, segundo o qual, nada do que não esteja explicitamente ensinado nas Escrituras possa ser imposto aos crentes.

 Mas, ironicamente, aqui nasce um problema para os evangélicos de nossos dias: quando se trata de passar o ensino de seus líderes, suas próprias tradições e práticas pelo crivo das mesmas Escrituras, ele rapidamente se sai com a excusa de "não julgueis para não serdes julgados", ou qualquer imbecilidade como "cuidado, o cara é ungido do Senhor; e não se deve tocar nos ungidos". Santa hipocrisia!

Ainda sobre isto há mais a se dizer: não apenas usamos o Sola Scriptura na balança da hipocrisia, como também o elevamos a um status de ídolo cego e manco. “Calvino? Wesley? Spurgeon? Agostinho? Cramer? Confisões de Fé? Livros de Oração Comum? Não precisamos de nada, nem de ninguém, só das Escrituras!”

 Conseguem perceber o desvirtuamento, a falsidade insinuante? Inventamos a idéia de que ter a Bíblia como regra suprema de fé implica na rejeição do que Deus, por Seu Espírito, fez durante séculos de cristianismo! Porém, se alguém ousar questionar o desatino anti-biblico de algum apóstolo moderno, temos resposta rápida e eficaz: "Cuidado com a Letra irmão, abra seu coração para o mover do Espírito!".
 Nada mais nos interessa, ao menos, nada que tenha acontecido antes do nosso profeta, apóstolo ou bispa preferidos.

Admito, meus queridos, que há gente na Igreja Brasileira que ainda faz jus ao título "evangélico" verdadeiramente. É possível que os mesmos sintam-se injustiçados com minhas generalizações. Me solidarizo com a dor, acreditem.
 Infelizmente, por mais triste que seja, o termo evangelico perdeu seu valor, não por si mesmo, mas pelo mau cheiro de quem não lhe soube extrair o bom perfume. E, cá entre nós, nada mais eficaz para despertar um moribundo que uma boa descarga eletrica no peito: ou acorda, ou bate as botas de vez!

De modo que, tomo a liberdade de me definir como "um cristão, a favor do Evangelho de Jesus, mesmo que precise ir contra os evangélicos de minha geração". Peraí! Acho que isso é ser bem Evangélico, com E maiúsculo, não acham?

Com Cristo Jesus até o fim!

                                                 Texto de Marcelo Lemos (adaptado por João Henrique)
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4 comentários:

  1. Bom seria não existir: termos, linguagens,trejeitos gospi,fala gospi entre tantas outras colocações que hoje se determina no "mundo evangelico". Tambem não sou mais evangelico.Prefiro os primordios, onde as pesoas somente se tratavam como irmãos em Cristo.

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  2. Ah entao vc deixou de ser evangélico? vai buscar algo melhor? o que o catolicismo? espiritismo? ou vai ficar fzendo seu próprio culto em casa tomando ceia por conta própria? essas coisas q vc disse existe sim no meio evangélico, mas é no meio dessas igrejas hereges queestão buscando properidade! Vai ver se tem isso na assembleia de deus! Sabe o que pessoas como vc provoca? ira pra aqueles q nunca foram crentes e q não entendem. E o problema é q vc ainda faz um post desses generalizndo todos os evangélicos! Ah por favor! Não seja tão ridiculo! Quer deixar de ser evangélico por conta desses modismos que entraram em algumas denominações, blz! Mas fique sabendo q os verdadeiros evangélicos não fazem nda disso q vc citou! Vc na verdade é foi um daqueles crentes q estava esperndo algo dos homens e não de Deus!

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    1. "Debbinha... você é tão linda!Rsrs... Mas tenho a ligeira impressão de que só leu o título da postagem para construir uma crítica tão enciumada do "povo evangélico". Pra você caberia o trecho: "Admito, meus queridos, que há gente na Igreja Brasileira que ainda faz jus ao título "evangélico" verdadeiramente. É possível que os mesmos sintam-se injustiçados com minhas generalizações. Me solidarizo com a dor, acreditem." Mas caso você ainda não entenda, lhe indico a postagem: http://jhbloureiro.blogspot.com.br/2012/04/eu-preciso-te-lembrar-que.html. Tá na hora menina!!!

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